Blog

01/06/2023

Antonio Risério promove curso digital “O Sumiço do Mestiço”

Antonio Risério promove curso digital “O Sumiço do Mestiço”

A partir de junho, teremos a oportunidade de participar de uma nova série de encontros com o ensaísta e antropólogo Antonio Risério. Apresentando um programa inédito - 'O sumiço do mestiço' -, Risério dá continuidade às conversas sobre as tramas sociopolíticas e culturais do Brasil, enfatizando a necessidade de responsabilidade crítica para lidar com o presente. 

Entre os clichês atualmente mais utilizados pelo jornalismo identitarista que tomou conta da mídia brasileira, encontramos invariavelmente a frase: "estamos passando a história do Brasil a limpo". Mas uma pergunta óbvia não costuma ser feita a essas estrelas e subestrelas midiáticas: como é que elas podem pensar em "passar a limpo" uma coisa que não conhecem? Com sua ignorância sobre a matéria, ao contrário, prestam um desserviço nefasto e funesto à nação: formam uma opinião pública passando, como se fosse real, uma imagem fantasiosa e ideologicamente comprometida do que seja o Brasil. É assim que assistimos a um vasto desfile de distorções e falsificações da vida brasileira, nas suas mais diversas dimensões. Entre tais falsificações grosseiras, impostas pelo imperialismo cultural norte-americano, está a redução do Brasil a um estatuto de nação bicolor, a um mundo habitado exclusivamente por "brancos" e "negros", como se não fôssemos uma nação onde as massas mestiças representam a grande maioria da população do país. Esta fantasia ideológica do Brasil bicolor dividido entre brancos e não-brancos vai surgir, ironicamente, no campo da sociologia marxista da USP – e se estender até ao esquerdismo identitarista de nossos dias. E o caminho é feito de fraudes e leituras equivocadas – sobre o abolicionismo, o pós-13 de Maio, o negro na sociedade capitalista, etc., etc. O objetivo do curso O SUMIÇO DO MESTIÇO é justamente o de providenciar algumas correções de voo mais do que necessárias sobre alguns dos temas com que nos vemos à volta atualmente. Em linguagem clara e direta. E com conhecimento dos fatos.

DIA 03 DE JUNHO / SÁBADO 10 H | CRÍTICA HISTÓRICO-SOCIOLÓGICA 1

A sociologia marxista da USP produziu duas marcas altamente prejudiciais ao bom entendimento da vida brasileira. De uma parte, imprimiu no horizonte mental do país uma visão esquemática, empobrecedora e falsa da Abolição e do Pós-Abolição (que se estende, grosso modo, de 1888 a 1930, cobrindo portanto o período da Primeira República): a Abolição teria sido uma dádiva para os senhores e uma desgraça para os escravos. De outra parte, deixando a sociologia e avançando pela ideologia, para fins de atuação política, abraçou a dicotomia racial/racista norte-americana e a transplantou para os nossos trópicos, passando a tratar o Brasil como nação bicolor, dividida entre negros e brancos, como se o Brasil não fosse habitado maioritariamente por um povo mestiço e sincrético.

DIA 10 DE JUNHO / SÁBADO 10 H | CRÍTICA HISTÓRICO-SOCIOLÓGICA 2

 A Abolição de 1888 não libertou grandes massas, mas um contingente bem reduzido da população do país. Em 1822, os escravos somavam 50% dessa população – em 1888, não passavam de 5%. O que tínhamos de notável era um imenso contingente de pessoas de cor (mulatos, cafuzos, pretos, caboclos) que eram livres. E já estavam engajados na vida urbana e no mercado capitalista de trabalho. Luna e Klein: "As pessoas livres de cor no Brasil eram, meio século antes do fim da escravidão, um elemento importante, competitivo e integrado na sociedade do Império". Havia ainda a realidade, que foi tantas vezes negada, da existência de vida familiar entre escravos. Hoje, sabemos que escravos formaram unidades familiares estáveis e duradouras em todo o país. E é preciso mesmo abrir o foco nacionalmente. As realidades da Bahia, do Rio de Janeiro e de Pernambuco negam a fantasia sociológica do marxismo neopositivista uspiano. Já com relação ao 13 de Maio, com escravos em festa e o suicídio de alguns senhores. Pretos, mulatos, cafuzos e caboclos da Bahia, por sinal, estabeleceram uma conexão preciosa entre o 2 de Julho e o 13 de Maio: a libertação do lugar se completando na libertação da pessoa.

DIA 17 DE JUNHO / SÁBADO 10 H | CRÍTICA HISTÓRICO-SOCIOLÓGICA 3

A nossa economia, incluindo até as figuras do escravo assalariado, do ex-escravo empresário e do escravo ou ex-escravo senhor de escravos, nunca foi puramente escravista. A estrutura da sociedade brasileira nunca se dividiu esquematicamente entre senhores e escravos. Brancos compunham um contingente de cor, não uma classe social. Não eram uniformemente senhores – distribuíam-se, antes, por degraus variados da hierarquia social, num arco que ia do rico proprietário de engenhos ao pedreiro ou marceneiro, do comerciante de muitas posses ao vadio ou mendigo. Da mesma forma, também os pretos, mulatos e cafuzos não integravam uma mesma classe. Não eram uniformemente escravos. Havia muitos pretos e mulatos ricos, empresários de porte variado, senhores negros que escravizavam outros negros. Enfim, nunca houve um agrupamento de proprietários de escravos ricos numa ponta e, na outra, um vasto conjunto de não-proprietários relativamente pobres e a massa de escravos. Entre os dois extremos da escala social, havia uma larga faixa intermediária formada principalmente por uma gente mestiça.

DIA 01 DE JULHO / SÁBADO 10 H | O FINANCIAMENTO ESTRANGEIRO

Vamos falar de dois momentos bem marcados na história do financiamento internacional a movimentações que, de um modo ou de outro, geraram iniciativas que convergiram para a desfiguração, a anulação ou a eliminação da figura do mestiço na leitura analítica ou interpretativa da história e da sociedade brasileiras, bem como para a abolição de sua presença e lugar nas jogadas e jogatinas do nosso campo político. No primeiro momento, vamos nos deparar com o tripé Departamento de Estado-CIA-Fundação Ford bancando uma "revisão crítica" da realidade racial do país, de modo a ressaltar o racismo brasileiro, em gesto que seria redimensionado no horizonte de uma defesa norte-americana contra os ataques soviéticos caracterizando os Estados Unidos como sociedade racista. No segundo momento, vamos seguir peripécias da poderosa Fundação Ford, que, depois de botar debaixo do braço a esquerda acadêmica ou cultural e organizações identitaristas norte-americanas, empenhou-se vitoriosamente, com muita garra e muita grana, em implantar o multicultural-identitarismo no Brasil.

O  programa do curso pode ser acessado através deste link: https://forms.gle/XHTR38bJhNPiL7oc7

Para confirmar a participação, basta realizar uma transferência para a chave pix estudiovaral710@gmail.com - enviando o comprovante para o mesmo e-mail. O curso completo custa R$500. Estudantes, mediante comprovação, pagam R$350.