Blog

18/07/2022

Maranhão é convidado pela China para integrar 'Rota da Seda'

Maranhão é convidado pela China para integrar 'Rota da Seda'

O Maranhão foi convidado, como o primeiro estado representante do Brasil, a integrar o Plano Belt & Road Initiatives (BRI), uma proposta de cooperação internacional da China, relacionado a um megaprograma mundial de investimentos, envolvendo países de todos os continentes que compõem, aproximadamente, um terço da economia global.

Implantado em 2013, ele abrange a chamada 'Rota da Seda' que, conforme uma pesquisa da Universidade de Fudan (Xangai), já investiu US$ 59,5 bilhões de dólares, em 2021 – algo em torno de R$ 315 bilhões, na infraestrutura de diversas nações parceiras. O plano chinês de investimentos engloba 65 países, compreendendo quase 62% da população do planeta e 30% do Produto Interno Bruto (PIB) de todo o mundo.

Outro estudo, desta vez da 'Strategic locations for logistics distributions centers along the Belt & Road', de 2022, elaborado por especialistas conceituados no exterior, apontou que São Luís, capital maranhense, apresenta todas as condições para ser incluída no projeto Rota da Seda, por causa de suas conexões rodoviárias, ferroviárias e portuárias.

Um desses exemplos é a Ferrovia Norte-Sul, principal eixo do transporte de cargas do país, que interliga as malhas ferroviárias das cinco regiões brasileiras, especialmente no Arco Norte, ou seja, acima da linha do Paralelo 16.

Em visita ao país, o mestre e PhD Paul Tae-Woo Lee (foto) – professor de Logística Internacional e Transporte Marítimo da Universidade Zhejiang e um dos formuladores da expansão da Rota da Seda – participou do Simpósio Internacional “As Potencialidades do Maranhão na Nova Rota da Seda da China: oportunidades de negócio e de desenvolvimento para o Brasil”, realizado entre os dias 11 e 13 de julho, em São Luís. O evento foi organizado pela Fundação Sousândrade, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Programas Estratégicos (Sedepe) do Maranhão.

Conexão com o mundo
Em entrevista exclusiva à Portos e Navios, Lee destacou que a Rota da Seda está conectando a China ao restante do mundo por uma rota marítima, considerando que o projeto BRI está focado na construção de infraestrutura de transportes nos setores de rodovias, ferrovias, aeroportos e portos. “Desde o início, em 2013, cerca de 700 projetos já foram realizados em mais de 100 países, a exemplo do Paquistão, que é um dos beneficiados com o corredor econômico China-Paquistão, um dos principais projetos do BRI”, informou o professor.

De acordo com ele, os chineses têm muito interesse na inclusão brasileira nessa rota, via Maranhão, pelo fato de a região produzir muitas matérias-primas, como grãos e minério. “A China tem muita necessidade desses produtos, além do fato de que, em São Luís, há excelentes facilidades de portos e um calado diferenciado, de mais de 35 metros em seu porto [Porto do Itaqui], o que permite a atracação de navios enormes”, comentou.

Lee ressaltou que, segundo seus estudos, tanto a China quanto o Brasil se beneficiariam bastante com essa parceria em infraestrutura. “E mais, o Brasil é um dos membros do bloco econômico Brics (que inclui a própria China, além da Rússia e Índia) e o governo brasileiro deve ter ações proativas nesse bloco”.

O professor citou outros atrativos na região do Norte do país: “Assistimos apresentações sobre projetos relevantes do Maranhão, que reforçariam o interesse chinês, tais como a criação de uma ZPE (Zona de Processamento de Exportações) no estado, além do grande potencial que há, por aqui, para um tema que a China tem valorizado muito, que são as energias renováveis e a nova economia verde”.

De acordo com ele, a Sedepe e a Companhia Maranhense de Gás (Gasmar) mostraram como estão buscando implementar ações voltadas para questões, como hidrogênio verde, fertilizante verde e mercado de créditos de carbono. “Outro destaque é o projeto de exploração de gás natural na Bacia Sedimentar do Parnaíba e as perspectivas de exploração offshore de petróleo, na chamada margem equatorial na região de Barreirinhas (PA)-Maranhão. O presidente da Gasmar, Allan Kardec, disse [na apresentação dele, no simpósio] que ‘a grande fronteira energética do planeta é aqui’. Isso demonstra o quanto o Maranhão é um player estratégico para a China e para o mundo”, comentou Lee.

Investimentos
Conforme o professor, o projeto BRI já conta com diversos investidores, no entanto, não informou um valor exato dos investimentos na Roda da Seda. “Alguns parceiros vêm dos setores de portos, da construção civil, a exemplo da Cosco e da empresa chinesa CMG. Eu não acredito que existam limitações de orçamento financeiro. O que os investidores chineses buscam, de fato, é o valor agregado do investimento em si”.

Após fazer a visita de campo ao Porto do Itaqui e conhecer os demais players portuários do Estado – como os portos privados já em operação e outros em fase de implantação – ele disse ter certeza de que os investidores chineses ficarão bem interessados em investir no Brasil, por meio do Maranhão.

Outra possível fonte de recursos para esses investimentos, segundo Lee, seria a criação de um consórcio de empresas, que poderia atrair investidores internacionais diversos. “Há muito interesse empresarial para suprir as prioridades da China e do mundo também, que são itens como matérias primas, energias e alimentos. E o Brasil é um país-chave, para o mundo, no fornecimento mundial de todos esses itens: alimentos, energias renováveis e matérias primas”.

Transporte e logística
Em relação à intermodalidade de transporte e logística no Brasil, que apresenta profundos gargalos nos setores aéreo, ferroviário, hidroviário, marítimo e rodoviário, o professor acredita que essa integração pode incrementar, ainda mais, a realização de negócios e a competitividade global do Brasil. “É uma questão que pode ajudar o país a desenvolver projetos e ampliar suas conexões. Eu considero, também com base nos meus estudos, que tanto a China quanto o Brasil se beneficiariam bastante com essa parceria, para o desenvolvimento da infraestrutura de transportes de forma geral. São Luís possui excelentes condições para receber esse projeto, justamente pelas conexões rodoviárias, ferroviárias e condições portuárias excepcionais”, reforçou.

Fonte: Portos e Navios