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01/06/2022

China cria base na América do Sul com construção de megaporto no Peru

China cria base na América do Sul com construção de megaporto no Peru

O conglomerado estatal chinês Cosco Shipping Holdings está avançando com sua própria solução para desembaraçar esse nó ao construir – praticamente do zero – um porto de águas profundas no Peru. Ao custo de US$ 3 bilhões, ligará uma indústria e um parque logístico, em colaboração com uma unidade da trading suíça Glencore.

Chancay, a 55 quilômetros da capital Lima, ao norte da costa do Pacífico, tem o zumbido de máquinas pesadas chinesas e o baque de explosões subterrâneas abafando o som das ondas no único novo desenvolvimento portuário em andamento nas Américas.

Sinais em espanhol e chinês anunciam marcos de construção e obras públicas futuras. Milhares de trabalhadores se movimentam pelo local de 1.100 hectares, despejando concreto, conduzindo equipamentos de construção e quebrando rochas.

“Este porto vai mudar Chancay e nosso modo de vida”, disse Johnny Ching, 51, professor cujos ancestrais chegaram à cidade vindos do sul da China no fim do século 19. “Não é só o porto, mas toda a indústria que virá com ele. Já podemos ver a influência chinesa.”

O China Railway Group está construindo um túnel de 1,8 km da área portuária para que os caminhões que vão para um parque industrial e logístico de 800 hectares possam contornar o centro da cidade de Chancay.

A Cosco opera em cerca de 35 portos em todo o mundo, mas Chancay será o primeiro posto avançado do conglomerado na América do Sul.

“A Cosco Shipping cooperará em conjunto com o Peru para desenvolver o Porto de Chancay em um importante porto central na América Latina”, disse o presidente Xu Lirong em 2019, quando a empresa fechou o acordo para comprar 60% do projeto da unidade Volcan da Glencore, por US$ 225 milhões.

“O Porto de Chancay é uma iniciativa importante para implementar a iniciativa de estrutura Rota da Seda para a China e o Peru”, acrescentou.

A Cosco não está enfrentando esse desafio sozinha, aponta o Valor Econômico. As empresas estatais parceiras China Railway Group e China Communications Construction, especialmente sua unidade China Harbour Engineering, estão liderando a construção do novo porto.

De acordo com o plano da Cosco, o novo porto será capaz de lidar com os maiores navios porta-contêineres do mundo e processar até 1 milhão de contêineres padrão por ano, com os primeiros cais sendo abertos em um ano.

“O porto está planejado para crescer e temos espaço para continuar expandindo por 50 anos”, disse Gonzalo Rios, vice-gerente geral do porto. “Não há outro projeto como este, em termos de tamanho e tecnologia de construção em andamento hoje”, disse.

O principal valor do Peru para a China como parceiro comercial é o cobre, um insumo crucial para manufatura e construção. Mas embora as empresas estatais chinesas administrem duas das maiores minas de cobre do Peru, a produção delas não deverá sair via Chancay. Isso porque a Cosco está priorizando a infraestrutura para lidar com contêineres padrão e commodities agrícolas. A farinha de peixe é outra grande importação chinesa do país.

O comércio de contêineres do Peru com a China fica bem atrás do vizinho Chile. O Chile recebeu 643.958 unidades equivalentes a vinte pés (TEU) de contêineres no ano passado da China, enquanto enviou 331.047, de acordo com o serviço de dados Panjiva da S&P Global Market Intelligence. Para o Peru, entraram 397.046 TEU e saíram 133.239.

O porto de Callao, nos arredores de Lima, hoje o principal porto comercial do Peru e o centro de contêineres mais movimentado da América do Sul, movimentou cerca de 2,4 milhões de TEU. A unidade portuária da companhia de navegação dinamarquesa A.P. Moller-Maersk controla o lado norte de Callao, enquanto a operadora de terminal de Dubai DP World administra o sul, onde está investindo US$ 350 milhões para expandir a capacidade.

A Cosco agora está atrás da Maersk no serviço transpacífico para a costa oeste da América do Sul. De acordo com dados divulgados no ano passado pelo serviço de pesquisa BlueWater Reporting, o grupo dinamarquês controlava 21% da capacidade ao longo da rota comercial, enquanto a Cosco estava empatada em segundo lugar com duas outras companhias marítimas em 14%.

Mas pode-se esperar que a participação da Cosco cresça quando o novo porto da empresa estiver em funcionamento.

“Este é um desenvolvimento estratégico”, disse Peter Sand, analista-chefe do serviço de dados de remessa Xeneta, em Oslo (Noruega). “Se correr de acordo com os planos traçados, se tornará um hub para as exportações chinesas de contêineres no continente sul-americano.”

“Alguns investimentos estatais chineses têm um objetivo diferente do sucesso comercial e financeiro clássico”, acrescentou. “O objetivo é mais amplo, estratégico e de longo prazo.”

Já em relação ao Peru, Chancay seria um vetor de crescimento se o país for capaz de catalisar o desenvolvimento em parques industriais próximos planejados que poderiam aproveitar o novo porto e sua localização ao longo da Rodovia Pan-Americana, disse Omar Narrea, professor de gestão pública com foco em infraestrutura na Universidad del Pacífico em Lima.

Fonte: Valor Econômico